Entrevista | Campanha bomnegocio.com, do planejamento ao sucesso publicitário

terça-feira, julho 29, 2014 Jony Lan 0 Comments

Slogan | “A cada um minuto, quatro coisas vendem”.
Estratégia de comunicação | campanha publicitária com sete comerciais
Mensagem | Como se livrar de coisas que não são mais convenientes dentro de casa.
Celebridades utilizadas | Diego Armando Maradona, o cantor Supla, o ex-Tchan Compadre Washington, a socialite Narcisa Tamborindeguy e os humoristas Paulo Gustavo e Sérgio Malandro.
Alcance na internet | média de sete milhões de vezes no YouTube.
Início | outubro de 2014
Resultados | Março de 2014, crescimento de 150% em page views. Fevereiro de 2014, 19 milhões de usuários únicos no mês = 59% do total de cliques do setor no Brasil.

As campanhas antigas que não levaram celebridades tiveram 3 vezes menos visibilidade e repercussão que a atual campanha com celebridades. Ou seja, celebridades bem utilizadas, "vendem".

Por trás dos números está a NBS, que possui clientes como a Coca-Cola e a Petrobras, e uma equipe liderada por André Lima, sócio e VP de criação e planejamento da agência de publicidade.

Em entrevista de André à Época NEGÓCIOS:

Como foi o processo de criação da campanha bomnegócio.com? Como vocês tiveram a ideia?
O processo de criação da campanha bomnegócio.com foi como são todos os processos de criação aqui dentro da agência. Depois de um trabalho longo envolvendo as áreas de atendimento, planejamento e mídia, nós sentamos para criar. Na primeira frase de produção, o processo é muito livre: nós falamos bobagens sem muito filtro. Nosso único limitador é estar dentro da estratégia. O que nós queríamos ali? A gente tinha um caminho estratégico definido que era valorizar a velocidade com que a venda é feita e descobriu que esse era efetivamente o principal beneficio que as pessoas buscavam em qualquer e-commerce. Multiplicamos a quantidade de coisas vendidas pelo número de anúncios e chegamos naquele número que está no comercial: a cada um minuto, quatro coisas são vendidas. Esse foi o primeiro start da ideia. A partir daí, nós começamos a ter várias ideias diferentes, tentando explorar essa questão da velocidade. O que queríamos era trazer alguma camada emocional para a campanha e assim nós conseguimos chegar em como ela é hoje. Depois, com um monte de ideia na mesa, nós fomos colocando os filtros: essa proposta tem pertinência? Tem aderência? Fala de alguma coisa que vai muito ao encontro com algum desejo do consumidor? Nós conseguimos conversar com a alma do nosso público com essa abordagem? Tem algum insight humano que vai fazer as pessoas se identificarem com a marca? E é assim que a gente chega na execução de uma campanha.




Quantas pessoas participaram dessa fase?
Cinco pessoas estavam diretamente envolvidas na criação.

O cliente gostou da ideia logo no início?
Eu lembro bem da reação deles. Eles gostaram de imediato da campanha. Foi instantâneo, mas como nós trabalhamos em um negócio que envolve investimentos altos, nós fizemos um teste para saber se tínhamos a campanha certa na mão. O resultado já foi incrível. Na largada, nós já tínhamos convicção de que a campanha iria dar certo. Lógico que não era uma certeza, porque a vida real é muito diferente da vida dos testes, mas já tinha um cheiro de que tínhamos uma coisa poderosa e forte na mão.

Como vocês chegaram aos nomes de quem fariam as propagandas?
As escolhas das personagens foram decisivas para o sucesso da campanha. O primeiro nome que efetivamente pensamos foi o da Narcisa. Nós precisávamos de pessoas que eram conhecidas por não se levarem muito a sério, ou seja, pessoas bem humoradas, divertidas e que tivessem alguma característica de inconveniência muito bem determinada. Depois, criamos uma lista grande de nomes e selecionamos alguns. O bacana é que hoje, com o sucesso dos vídeos, nós invertemos a situação: tem um monte de gente se oferecendo para fazer a campanha. Eu recebo toda semana e-mails de empresários de celebridades ou de artistas em evidencia, desconhecidos ou um pouco esquecidos se oferecendo para fazer a campanha. É mais um indicativo de seu sucesso.





Você pode falar algum nome que te procurou?
Ah, não posso (risos). Sabe por quê? Porque eu estou negociando com algum desses que se ofereceram e se eu te disser fica chato. Se eu fechar é constrangedor e se eu não fechar é mais constrangedor ainda (risos).

Vocês esperavam esse sucesso todo?
Pois é. Nós tínhamos uma expectativa grande, mas eu devo confessar que o sucesso ultrapassou bastante o esperado. Essa campanha transbordou e atingiu aquele lugar mágico onde a campanha vira cultura popular. É o que nós buscamos sempre, fazer uma produção para os nossos clientes que se transforme em algo que as pessoas tenham vontade de compartilhar nas redes sociais e que elas queiram comentar com os amigos. Se você entrar no Google agora e buscar “sabe de nada, inocente” tem mais de 23 milhões de resultados só para essa frase, que foi citada de maneira espontânea por jornais, revistas, sites - ela caiu no gosto popular. Além dessa frase, tem inúmeros vídeos e paródias com brincadeiras sobre sumir com coisas. A campanha, no melhor sentido da expressão, saiu do nosso controle completamente. Tem um crescimento orgânico muito impressionante. As pessoas complementam a campanha, criam outras peças, multiplicam a mensagem.




Quais elementos da campanha criada pela NBS foram responsáveis por seu sucesso?
É uma pergunta bastante difícil. Se eu soubesse a fórmula perfeita, eu estaria rico (risos), mas eu vou tentar. A campanha é leve, ela é divertida, ela é despretensiosa, ela tem um conceito muito fácil de entender. Se alguma coisa está incomodando, você pode vender rápido no bomnegócio.com. O que gerou real identificação das pessoas com a campanha é um fato muito simples: acho que todo mundo tem na vida um monte de coisas, pessoas, situações, ambientes, momentos, que perturbam, que incomodam e que enchem o saco. E seria uma delícia se a gente pudesse se livrar disso de uma maneira rápida e simples. As pessoas se identificam com isso. As personalidades escolhidas para fazer os vídeos também ajudam muito. As pessoas gostam de ver algum famoso em uma situação adversa. Essa não é uma campanha que coloca a celebridade em uma posição de destaque, pelo ao contrário, ela faz uma coisa inconveniente e some junto com o produto.

Qual vídeo fez mais sucesso?
O do Compadre Washington. O vídeo tem mais de 8 milhões de visualizações só no YouTube.

Essa tentativa de viralização das marcas nas redes sociais pode ser perigosa? As agências de publicidade têm tentado a todo custo criar frases que grudem na cabeça do consumidor. Quando dá certo, ótimo. Em sua opinião, na tentativa de viralizar, as marcas podem correm o risco de anunciar um comercial chato?
Sim. No nosso caso, nós não começamos a campanha tentando inventar uma frase. A campanha prescinde da frase. O bordão foi só um bônus. O nosso principal objetivo era fazer com que as pessoas tentassem entender a mensagem: se você tem alguma coisa que não precisa mais e está te incomodando, você pode vender rápido pelo bomnegócio.com. Mas você tem razão. Criar uma campanha cujo principal objetivo é colocar uma frase na boca das pessoas é um risco enorme.



Qual foi o comercial mais difícil de ser feito e por quê?
A operação mais complexa que fizemos foi a do Maradona porque é um personagem bastante polêmico e ele não é um ator, então as dificuldades de filmar foram muito maiores. Ele mora fora do Brasil, então nós tivemos que gravar o comercial em Dubai. Teve uma complexidade de produção maior e talvez, por conta de toda a rivalidade argentina, não foi uma filmagem das mais fáceis - ele não era o personagem mais simpático no set de filmagem.

O Conar chamou o vídeo com o Compadre Washington de “ofensivo”. Como a NBS vê as proibições do Conar e da Justiça Eleitoral em suas campanhas?
Nós sempre respeitamos decisões judiciais, mas nós apelamos para aquelas que discordamos. No caso do Compadre Washington, nós já estávamos com uma apelação pronta quando o Conar decidiu julgar novamente o caso. Quando a proibição aconteceu, os consumidores começaram a se queixar porque o comercial tinha saído do ar. Eu nunca tinha visto aquilo antes. Nós achamos que houve uma má compreensão do Conar porque nós sempre escolhemos personagens que tenham uma característica de inconveniência. Justamente por falar coisas inconvenientes é que nós sumimos com o Compadre Washington no comercial. Não existe nenhum tipo de estimulo ao tratamento desrespeitoso em relação as mulheres. É justamente ao contrário, ele falou alguma coisa indevida e desapareceu da nossa história.

No caso do Tiririca é outra esfera de discussão. Os advogados do NBS e do bomnegócio.com estão juntos nesse momento descobrindo alguma forma de tentar reverter essa situação, mas se a decisão final for para que suspenda o comercial, nós vamos aceitar.



Em maio deste ano, o bomnegócio.com fez um post no Facebook com a foto de um casal dizendo ser uma imagem enviada por um cliente. “Recebemos esta foto da Joanna e seu marido felizes com o carro comprado pelo bomnegócio.com”. O problema é que a foto era de um banco de imagens. Gostaríamos de saber se a NBS foi responsável pela postagem com a foto da Shutterstock?
Não, nós não fomos responsáveis e eu não posso comentar nada sobre o assunto. Nós não estivemos envolvidos na questão desta postagem. Não fomos nós.

Além do bomnegócio.com e da CCAA com celebridades, quais outras campanhas você criou?
Eu também fui responsável por lançar a Oi no Brasil. Foi o momento mais marcante da minha carreira porque nós pegamos uma marca que não existia e com três anos apenas de trabalho, nós conseguimos transformar ela na marca preferida e mais querida do setor. Nós conseguimos inventar um estilo de comunicação que era muito diferente do que as operadoras de telefonia faziam na época. Todo mundo trazia um tom de voz muito técnico e chato e nós chegamos com uma coisa muito coloquial, muito próxima, muito quente. Tem uma coisa que a gente busca fazer muito, eu pautei a minha vida por isso. As marcas são sérias, os produtos que elas fazem são sérios, mas a comunicação que elas fazem não deveria ser levada tão a sério. O consumidor não quer ver uma marca distante ou arrogante.

Antigamente a regra era outra? Esse jeito mais próximo ao consumidor tem a ver com o surgimento das redes sociais?
Não. Antigamente, o efeito de fazer alguma coisa mais distante era menos nocivo porque antes das redes sociais as pessoas não tinham muito mecanismos de multiplicar o que pensavam, mas independente disso eu sempre acreditei que marcas devem ser próximas, devem evitar discursos de cima para baixo, devem evitar se levar muito a sério. Tem que evitar qualquer tipo de arrogância.



Além de valorizar a aproximação entre marca e cliente, quais conceitos te ajudaram a ter sucesso em suas campanhas ao longo da sua carreira?
Eu sou muito focado em posicionamento. Por trás dessa leveza, desse descompromisso, tudo que eu fiz ao longo da minha carreira tem sempre um posicionamento muito claro e sempre um lugar muito especifico que a marca está tentando ocupar. A mistura de muita preocupação com posicionamento e estratégia, aliado a busca de um tom de voz mais coloquial, mais próximo, mais leve, de alguma forma explica a minha trajetória. Agora, uma coisa fundamental para um publicitário ter sucesso é gostar de gente. Se você não gosta de gente, não vá trabalhar em comunicação. Nossa profissão é feita 100% de gostar de gente, querer entender gente, descobrir um mecanismo de conectar pessoas, influenciar pessoas, de criar vínculos emocionais entre as pessoas e as marcar, então gostar de gente de alguma forma também explica o que eu consegui alcançar na minha carreira.

Qual foi o prêmio da publicidade mais importante que você recebeu?
Prêmios são importantes, na medida em que são indicadores do mercado para a qualidade do seu trabalho. Eu tive a felicidade de ser premiado em todos os grandes festivais nacionais e internacionais de propaganda. Mas o prêmio que me deixou mais realizado foi o Destaque do Ano que recebemos para o Projeto NBS Rio+Rio, um negócio social que eu lidero aqui na agência ligado às favelas da cidade do Rio de Janeiro, onde somos a ponte entre a iniciativa privada e as comunidades pacificadas. Nós criamos modelos de negócio que promovem transformações nas comunidades e também resultado para as marcas.

Hoje em dia, o que é necessário ter em uma propaganda para que ela tenha sucesso?
É necessário ter clareza aonde se quer chegar. Qual é o posicionamento da marca? Qual é o espaço que essa marca quer ocupar na cabeça e no coração das pessoas. A partir daí nós vamos buscar um insight humano, nós falamos o tempo inteiro de consumidores e eu nem gosto muito desse termo porque nós estamos falando de gente. Tem que entender que são sempre pessoas do outro lado. Tem que descobrir o que é relevante emocionalmente e racionalmente para essas pessoas e a partir daí descobrir um insight humano que consiga conectá-las com a marca que nós estamos anunciando. Depois, é revestir isso com uma comunicação leve e coloquial. Se eu pudesse transformar o que nós fazemos em uma pequena fórmula, seria isso.

O que não pode ter de jeito nenhum?
Pretensão e má qualidade de produção. Não adianta nada ter uma ideia espetacular e produzi-la de maneira precária. Também não pode ter de jeito nenhum frieza e dureza. As pessoas procuram por coisas leves, o que não significa que tem que ser divertido. Tem que ser emocional, mas não pode ser pesado, no sentido de ser pretensioso ou falar muito da história da marca ou do produto. As pessoas não estão querendo saber se você levou 40 anos para desenvolver um produto, isso não é relevante na hora de os clientes fazerem suas escolhas.

Tem alguma coisa que aparece dentro da agência que você nega?
Ideia que alguém já usou é absolutamente proibida. O trabalho que a gente faz tem que ser fresco, tem que ter a capacidade de causar impacto. Tem que ser original.

Quais são as dicas para deixar uma equipe criativa?
Em primeiro lugar, controle a vontade de falar “não”. O não afugenta a ideia criativa. Às vezes, a ideia parece inadequada, mas com um pequeno ajuste ela pode se transformar em uma ideia muito vencedora. Evite julgamentos, evite constranger a equipe com frases inadequadas. Segundo, estimule que as pessoas tenham uma vida fora do trabalho. Para manter uma equipe criativa, eu estimulo muito que as pessoas tenham outros interesses. Eu estimulo idas ao cinema, ao teatro, que elas pintem, cantem, desenhem, escrevam, que elas façam outras coisas atraentes, que elas troquem informações, que elas evitem reciclar informações publicitárias para produzir mais material publicitário. Vai para o bar, vai conversar com os amigos, vai para a praia, vai jogar futebol, vê revista, lê livro, tem que estimular as pessoas a funcionarem como uma grande antena capaz de absorver muita informação.

A maioria das agências de publicidade tem um ambiente de trabalho descontraído. Você acredita que ter uma sala diferente no escritório estimule a criatividade?
Eu acho que ambiente de trabalho tem que ser confortável e agradável, mas eu não sou um dos maiores defensores de ambientes lúdicos. Eu não acho, necessariamente, que ambientes lúdicos vão geral ideias mais criativas. Quer uma equipe criativa? Dê liberdade para as pessoas. Isso é mais importante do que ter um escritório amarelo e azul com uma mesa de pingue-pongue no meio. Eu posso ter tudo isso e ser um castrador de ideias. O mais importante é deixar as pessoas livres para fazer coisas interessantes e livres para dizer o que pensam sem receber um “não” como resposta às suas ideias.


Fonte: Época Negócios

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