Estratégias | Steve Ballmer admite erro da década da Microsoft ao não investir em celulares
Em time que está ganhando não se mexe. Esse jargão tão famoso já ajudou muitos empresários ávidos pelo medo de ariscar em algo novo. Mas no mundo corporativo, não é assim que se cresce e se sobrevive. Para ex-CEO, empresa poderia estar melhor posicionada no mercado mobile se tivesse focado menos no Windows, ou seja, se tivesse investido mais em inovação e diversificação.
Após 14 anos como diretor-executivo da Microsoft, Steve Ballmer é o tipo de pessoa cujos conselhos devem ser ouvidos, principalmente se você for um estudante de administração ou um empreendedor iniciante. O 30º funcionário a ser contratado por Bill Gates, apenas cinco após criar a empresa de software, contou sua experiência a estudantes da Saïd Business School, na Universidade de Oxford, fez uma revisão da última década da empresa e comentou a compra do WhatsApp pelo Facebook.Apresentado como o CEO que “triplicou a receita e dobrou os lucros da Microsoft”, Ballmer lamentou a atual posição da empresa na corrida mobile e disse que, se pudesse, teria mudado o rumo das coisas.
“Nos últimos 10 anos, algumas coisas não deram muito certo”, disse. “O que mais me arrependo é não termos colocado hardware e software juntos antes”, fazendo uma clara alusão à Apple, que desenhou seu próprio smartphone e sistema operacional juntos. “Teríamos uma posição mais forte no mercado de smartphones hoje se eu pudesse refazer esses últimos 10 anos.”
Após 20 anos na empresa ocupando cargos na área de marketing e vendas, Ballmer foi convidado para ocupar o lugar de Gates em 2000. O executivo, listado pela Forbes em 36º na lista dos bilionários do ano, já havia admitido o excesso de foco sobre o sistema operacional Windows para computadores, impedindo-os de se dedicar para o novo dispositivo que nascia com enorme potencial na época: o celular.
Exatamente naquele ano, a Microsoft lançava um sistema operacional voltado para plataformas móveis chamado Windows Mobile, que disputava mercado apenas com a Nokia e seu Symbian em PDAs, os chamados “computadores de bolso”. O reinado durou pouco. Em 2007, a rival Apple lança o iPhone, revolucionando a indústria. Em 2008, o primeiro smartphone com Android, do Google, dava as caras. No mesmo ano, a Microsoft começou a trabalhar em seu novo produto, que tomaria a forma do Windows Phone 7, em 2010.
Desde então, nunca conseguiu uma fatia de mercado convincente. Em 2013, Ballmer anunciou sua aposentadoria e disse que não ficaria mais um ano no cargo. Na mesma época, a Microsoft fez seu movimento mais agressivo em direção ao mobile comprando a divisão mobile da finlandesa Nokia. A união gerou a linha Lumia, mas não conquistou o mercado dominado por Android, com 51,5%, e iOS, 41,8%, segundo números da comScore referentes ao mercado americano.
Dispositivos com o sistema da empresa embarcado amargam o quarto lugar (3,1%), atrás ainda da Blackberry (3,4%).
Aos 57 anos, Ballmer passou a direção para Satya Nadella, antigo diretor da área de computação em nuvem, em fevereiro, mas disse aos alunos de MBA em Oxford que ainda acredita nos frutos da fusão com a Nokia e que mais inovações da empresa estão por vir nos próximos anos.
“Temos a máquina para inovação, o marketing. Veja o que estamos fazendo com o Surface (o tablet), os smartphones. Isso significa que vamos liderar a próxima geração mobile? Não, mas estamos trabalhando para estar ali, acompanhando o ritmo”
Sobre a aquisição do WhatsApp pelo Facebook, Ballmer disse não saber se a fusão pode dar certo, mas que certamente a empresa de Zuckerberg saberá fazer dinheiro com a compra. O ex-CEO usou o caso como exemplo para passar ensinamentos à plateia de estudantes sobre dados e objetivos.
“Ter 450 milhões de usuários significa que você mereça ser comprado por US$ 19 bilhões? Não, você tem que definir suas medidas de sucesso. Na prática, isso significa pensar: ‘Com esses usuários, eu consigo fazer dinheiro suficiente para atender às expectativas dos meus acionistas?’ Isto é pensar a longo prazo.”
Para Ballmer, o problema das startups atuais é não pensar, como ele, a longo prazo. E criticou a retória de “atingir sucesso e falhar rapidamente”. Para eles, empresas como Microsoft, Google, Apple e Facebook (que chegou a 1 bilhão de usuários passados 10 anos) levaram alguns anos para serem grandes. “Eu acho que o que as grandes empresas fazem é não desistir rapidamente.”
“Nosso trabalho não é desistir e ir para casa. É tentar e continuar a nossa ideia e entrar na nova onda de inovação. Imagine o mundo daqui 10 anos, você acha que os celulares vão se parecer em algo com os que temos hoje?”
E ex-diretor da empresa que mais vendeu software no mundo deu seu conselho final para todos que pensam em abrir seu próprio negócio. “Preço. Pense sobre preço, não ignore preço. Há muitas empresas que começam sem modelo de negócio e outras que tem e a única diferença entre a que obtém sucesso e a que falha é saber como fazer dinheiro.”
Veja a palestra pela Oxford University, início aos 5'.
Fonte: Estadão, Reuters