Branding | como a Rovio transformou o Angry Birds em um negócio lucrativo e porque vai lançar parques no Brasil
O jogo para plataformas móveis lançado em 2009 já foi baixado mais de 1,7 bilhão de vezes. A Galinha Pintadinha pode ser mais, mas será que ela tem a mesma visão da Rovio?
O finlandês Peter Vesterbacka não sai de casa sem seu casaco de capuz vermelho. Atual diretor de marketing da desenvolvedora Rovio, a criadora dos famosos passarinhos invocados do game Angry Birds, Vesterbacka foi quem deu o empurrão inicial na startup, em 2003, e depois se tornou seu mentor. Hoje, a marca estampada em seu casaco de moletom é reconhecida em qualquer lugar do mundo.
O jogo para plataformas móveis lançado em 2009 já foi baixado mais de 1,7 bilhão de vezes. Se os desenvolvedores da Rovio levam o crédito por fazê-lo simples e intuitivo, cabe a Vesterbacka o mérito de tê-lo inserido na cultura pop.
O finlandês de 44 anos instituiu na empresa a filosofia de pensar grande. Em parceria com a Nasa, por exemplo, a versão Angry Birds Space foi lançada da Estação Espacial Internacional. Seu maior trunfo, no entanto, foi transformar a marca em algo muito além dos games. Bichos de pelúcia, refrigerantes, roupas e até patinetes fazem parte do imenso portfólio de licenciamento da Rovio. Os produtos representam 45% da receita de 129 milhões de dólares da empresa.
Peter Vesterbacka esteve no Brasil para anunciar a criação dos parques de diversões Angry Birds. Ele contou a INFO sobre sua filosofia de trabalho e a construção de uma marca ícone.
Por que seu cartão de visita tem como cargo Mighty Eagle (Águia Poderosa)? Digamos que sempre quis escrever no cartão algo que criasse um motivo para começar uma conversa. Mighty Eagle é um dos personagens do jogo, faz parte da história da empresa e sempre desperta a curiosidade das pessoas.
Fazer coisas inusitadas é estratégia para a Rovio? É como fazemos marketing. Fazer as coisas de um jeito diferente agrega valor, especialmente em uma área tão disputada como a de games e entretenimento. É importante se destacar. E pensar grande. Vamos anunciar o Angry Birds Space? Então vamos fazer esse lançamento no espaço!
Existe algum ingrediente mais importante na fórmula de sucesso do Angry Birds? É uma combinação de muitas coisas. O jogo é ótimo. Os personagens são queridos pelas pessoas. Mas acho que tivemos muito timing. O Angry Birds foi um dos primeiros jogos criados para o touch screen. Além disso, a marca foi construída para o marketing boca a boca, pois gera uma pergunta: por que os pássaros estão bravos?
Vocês planejaram em detalhes o lançamento? Sim. A Rovio queria criar um game que se tornasse um hit. A empresa existe desde 2003 e já havia feito mais de 50 jogos. Na época, a distribuição dependia de várias negociações com os fabricantes. Então vieram o iPhone e o modelo de lojas de aplicativos. Ficou claro que era possível distribuir diretamente para as pessoas. Em uma reunião de ideias, um dos 12 funcionários da época apresentou o desenho dos pássaros. Todo mundo se apaixonou e o game surgiu. Foram oito meses criando o Angry Birds, a maior parte do tempo perdida com os desenvolvedores jogando (risos). Uma das preocupações da empresa é justamente manter esse clima de startup, em que todos podem contribuir com ideias.
Como estimular esse espírito empreendedor com o crescimento da empresa? Nem sempre é fácil quando a empresa passa de dezenas para centenas de funcionários (hoje são mais de 500). Mas trabalhamos com muitas startups. Montamos times de trabalho pequenos e independentes uns dos outros. Além disso, todos têm 10% do tempo livre para projetos pessoais. Estabelecemos metas ambiciosas, o que força as pessoas a pensar de forma criativa. Quando disse que chegaríamos a 100 milhões de downloads, parecia impossível. Mas não era — e batemos 1,7 bilhão. Não é só trabalho duro que funciona. É fazer as coisas de forma mais inteligente, rápida e, claro, melhor.
A estratégia de licenciamentos faz com que a Rovio seja comparada à Disney, especialmente depois que parques de diversões foram lançados. Não estamos construindo parques temáticos, como a Disney, porque não temos 5 bilhões de dólares para esses projetos. No lugar de um parque bilionário construído em cada continente, queremos espaços menores nos bairros das pessoas. Não queremos um lugar que você visite a cada quatro anos, mas, sim, todos os dias ou uma vez por semana.
Por que no Brasil os parques terão parceria com uma rede de shopping centers? A rede BRMalls tem 400 milhões de visitantes. É um número interessante, que vai ajudar a expor a marca para um público maior. Hoje, 45% do nosso negócio está baseado nos produtos que vendemos com parceiros de licenciamento. Algumas atualizações do game saem em datas festivas, como Angry Birds Halloween ou a versão de Natal. Seria interessante alinhar essa sazonalidade com os shopping centers.
O aplicativo do Angry Birds tornou-se mais do que porta de acesso ao jogo. Vocês passaram a distribuir vídeos. Em março, quando anunciamos os desenhos animados Angry Birds, lançamos uma atualização que permite assistir às animações. O app se tornou um grande canal de distribuição, com acesso a milhões de usuários. É até engraçado ver como as coisas mudaram. Hoje, quando tenho reuniões em Hollywood, são os grandes executivos que me pedem ajuda para distribuir conteúdo.
Qual é a sua impressão do Brasil? Existem 3 milhões de pessoas que falam inglês no Brasil, mas a demanda é muito maior. Então, estamos olhando a área de educação. Existe uma oportunidade similar à presente na China.
Vai surgir um app para aprender inglês com os Angry Birds? Só posso dizer que estamos investindo em educação. É um mercado importante para nós. São os três “Es” da empresa: entretenimento, educação e empreendedorismo.
Qual o lugar mais inusitado em que já viu a marca Angry Birds? Na África, em uma vila no meio do nada, onde não existem smartphones. Na entrada da vila havia um anúncio da Coca-Cola e, embaixo, pintado à mão, um enorme pássaro vermelho. Foi incrível! Outro momento marcante foi quando estava fazendo checkout num hotel em Barcelona e encontrei um senhor coreano que não falava inglês. Quando viu meu casaco, ele abriu um sorriso e fez o gesto de quem está atirando no jogo. Foi como se tivéssemos uma linguagem internacional de sinais. Ver essas coisas me faz perceber que estamos indo bem na nossa meta de tornar o Angry Birds parte da cultura pop.
Abs,
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Fonte: Exame