Roberto Civita, presidente do Grupo Abril, uma vida dedicada à liberdade de expressão como Veja, Exame e Playboy
Um visionário, que colocava em prática o que fosse importante. com respeito à todos, e que criou um dos maiores grupos de comunicação da América Latina. Não só acompanhei de perto o seu trabalho como aprendi por 8 anos o jeito Abril de ser.
O diretor editorial e presidente do Conselho de Administração do Grupo Abril, que morreu neste domingo, deixa um legado de defesa da democracia.
Civita deixa a mulher Maria Antonia, os filhos do primeiro casamento Giancarlo, Roberta e Victor, além de seis netos e enteados. Deixa também uma imensa saudade em todos os que tiveram o prazer de conviver com ele e um grande legado na história do jornalismo brasileiro e na defesa da liberdade de expressão.
Roberto Civita nasceu em Milão, no dia 9 de agosto de 1936. Filho de Victor Civita (1907-1990), fundador do Grupo Abril. Deixou a Itália com 2 anos e morou em Nova York até os 12. Passou a adolescência no Brasil até sair novamente para estudar no exterior.
Estudou física nuclear na Rice University, no Texas. Formou-se em jornalismo na Universidade da Pensilvânia e em economia pela Wharton School, da mesma instituição, com pós-graduação em sociologia pela Universidade de Columbia.
Em outubro de 1958, recém-formado e aos 22 anos, começou a trabalhar na Abril. Foi a partir de sua chegada que a editora lançou suas primeiras revistas jornalísticas, a começar pela Quatro Rodas, em 1960. Em seguida vieram Claudia (1961), Realidade (1966), EXAME (1967) e Veja (1968).
Hoje, a Editora Abril publica sete das dez revistas mais lidas do país. No total são 52 revistas, disponíveis em plataformas impressas e digitais, que atingem praticamente todos os segmentos de público num universo de quase 30 milhões de leitores.
Entre todos os títulos que criou, VEJA era o que contava com maior participação de RC. Não apenas por ter idealizado a publicação que viria a ser a principal do Brasil, mas pelos anos difíceis no começo e a consolidação, sobretudo na década de 90, como a publicação que passaria a atuar decisivamente para mudar a história do país.
Uma das capas que mais representaram esse perfil de VEJA foi a da edição que trouxe a entrevista com Pedro Collor de Mello, irmão do então presidente Fernando Collor, em maio de 1992, com denúncias de corrupção no Governo Federal.
A entrevista deflagrou uma série de denúncias e investigações de toda a imprensa e do Congresso, assim como o movimento nacional dos “carapintadas” num período de apenas quatro meses até o impeachment de Fernando Collor.
O exemplo da capa com Pedro Collor e a consequente mudança do curso da história do país no começo dos anos 90 não seriam possíveis não fosse a incansável luta de Roberto Civita, ao longo de toda sua vida, pela busca da verdade e pela liberdade de expressão.
O tema sempre foi um dos pontos centrais de todas as suas palestras, no Brasil e no exterior. Em 2008, durante a III Conferência Legislativa sobre Liberdade de Imprensa, em Brasília, ele resumiu da seguinte forma seu pensamento:
“ (...) A liberdade de manifestação do pensamento, além de se constituir num direito natural do homem, é o pressuposto básico da democracia e precede todas as demais liberdades por ela asseguradas: a liberdade política, religiosa, econômica, de imprensa, de associação e todas as outras.
A livre manifestação do pensamento e a liberdade de imprensa, porém, não constituem um fim em si mesmo, mas sim um meio imprescindível para garantir a sobrevivência de uma sociedade livre e democrática.
Existe uma indissolúvel interdependência entre democracia, liberdade de imprensa e livre iniciativa, o conhecido tripé que envolve uma das mais extraordinárias simbioses do mundo moderno.
Não custa lembrar que a democracia e a liberdade dependem, para se manter, das informações e da fiscalização que somente uma gama diversificada de veículos independentes pode assegurar. (...) “
Pioneirismo - O pai prometeu preparar a empresa para o passo audacioso, consumado em 11 de setembro de 1968, quando chegou às bancas a primeira edição de VEJA. Roberto Civita participou intensamente das experiências pioneiras que resultaram no lançamento deRealidade, Exame, Quatro Rodas ou Playboy. Mas nada o deixava mais emocionado que recordar a trajetória descrita pela primeira revista semanal de informação do Brasil. Foi ele quem a criou. E foi ele o primeiro e único editor de VEJA, hoje a maior publicação do gênero fora dos Estados Unidos.
“Ninguém é mais importante que o leitor, e ele merece saber o que está acontecendo”, lembrava aos recém-chegados. “VEJA existe para contar a verdade. A fórmula é muito simples. Difícil é aplicá-la o tempo todo”. Sobretudo em ambientes hostis à liberdade de expressão, aprendeu Roberto Civita três meses depois do parto da revista. Em 13 de dezembro de 1968, a decretação do Ato Institucional n° 5 transformou o que era um governo autoritário numa ditadura militar sem disfarces. A capa da edição que noticiou o endurecimento do regime exibiu uma foto do general-presidente Arthur da Costa e Silva sentado, sozinho, no plenário do Congresso que o AI-5 havia fechado. Os chefes militares não gostaram da imagem, e ordenaram a apreensão de todos os exemplares. A essa violência seguiu-se a instauração da censura prévia, que só em meados da década seguinte deixaria de tolher os passos de VEJA.
Risonho, cordial, otimista, Roberto Civita sempre acreditou que nenhuma atividade vale a pena se não for praticada com prazer. “Você está se divertindo?”, perguntava insistentemente aos profissionais com quem convivia. Mantinha-se otimista mesmo quando contemplava a face sombria do país. Para ele, o Brasil só conseguiria atacar com eficácia seus muitos problemas se antes aperfeiçoasse o sistema educacional, modernizasse o capitalismo nativo, removesse os entraves à livre iniciativa e consolidasse o estado democrático de direito. “O que VEJA defende, em essência, é o cumprimento da Constituição e das leis”, repetia. Também essa fórmula parece simples. Difícil é colocá-la em prática. Foi o que o editor de VEJA sempre soube fazer.
Abs,
Jony Lan
Especialista em estratégia, marketing e novos negócios
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Fontes: Exame, Veja