Estratégia | Chery foca em ’ponto de equilíbrio’ para ganhar mercado no Brasil
Estratégia de negócios | com margens que a permitam operar no ponto de equilíbrio entre receitas e gastos, o chamado break even, sem ter de trabalhar com prejuízo no país, esse é o posicionamento da empresa no Brasil. E o seu posicionamento, qual é? Fazer tudo sozinho ou depender só da área comercial?A montadora chinesa Chery Automobile Co. terá margens de lucro “insignificantes” por até dez anos no Brasil para triplicar sua participação de mercado local até 2015, disse o presidente da companhia no País, Luís Curi.
Com 1 por cento do mercado doméstico de automóveis, a chinesa aposta que chegará a 3 por cento até 2015, após o início da produção na fábrica de US$ 400 milhões que está construindo em Jacareí, no interior de São Paulo, disse Curi. A unidade terá capacidade para produzir entre 150.000 e 170.000 veículos por ano. A Chery espera vender cerca de 30.000 veículos no Brasil neste ano, disse o presidente em entrevista ontem na sede da Bloomberg em São Paulo.
“O mercado chinês já garante rentabilidade para a Chery, então aqui no Brasil a gente está no estágio de comprar mercado, mas trabalhando com margens insignificantes”, disse Curi. “Pelos próximos dez anos nós não vislumbramos, nós não esperamos, retorno. São dez anos de investimento. A margem é relegada a um segundo plano.”
Segundo ele, a Chery deve praticar margens que a permitam operar no ponto de equilíbrio entre receitas e gastos, o chamado break even, sem ter de trabalhar com prejuízo no País.
A participação das montadoras chinesas no mercado de carros de passeio brasileiro passou de praticamente zero em abril de 2010 para 3,29 por cento na primeira quinzena de agosto deste ano, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores. A Chery foi a primeira a começar a vender no País, em maio do ano passado, sendo seguida pela Chongqing Lifan Auto Co Ltd em dezembro e pela JAC Motors, da Anhui Jianghuai Automobile Co., em março deste ano.
Mudanças significativas
Hoje, de acordo com o executivo, a Chery tem 82 concessionárias em atividade no Brasil, e espera chegar a 150 no ano que vem. Em 2012, a previsão é vender entre 30.000 e 35.000 carros no País, disse ele. Segundo a Fenabrave, a Chery chegou ao mercado, em maio de 2010, com 0,15 por cento de participação, hoje sua fatia já chega a 1,1 por cento.
Segundo Curi, em dez anos, haverá mudanças significativas no ranking das maiores montadoras no Brasil. Nesse horizonte, quando a Chery terá alcançado volume suficiente de produção para ter escala para reduzir custos e melhorar suas margens, o objetivo é ser uma das cinco maiores do País.
“Já há uma nítida perda de participação” nas quatro montadoras líderes do ranking brasileiro, disse Curi em referência à Fiat SpA, Volkswagen AG, General Motors Co e Ford Motor Company. “Está sendo gradual, mas consistente, e isso é uma tendência.”
A queda na participação de mercado das montadoras consideradas tradicionais ocorre ao mesmo tempo em que suas vendas aumentam, disse o executivo. Segundo ele, a explicação para isso é a entrada de novas companhias, como a própria Chery, e a expansão dos investimentos de empresas que chegaram há relativamente menos tempo ao Brasil.
Além da Chery, outras montadoras anunciaram planos para investir no Brasil. Entre elas está a também chinesa JAC Motors, que no dia 1 de agosto anunciou a construção de uma fábrica de US$ 600 milhões no Brasil. A Nissan Motor Co., a Mitsubishi Motors Corp. e a Hyundai Motor Co. também fazem parte da lista das que anunciaram investimentos no País. A Bayerische Motoren Werke AG disse que avalia abrir uma fábrica no Brasil.
Demanda inalterada
Para Curi, a expectativa de um segundo semestre mais fraco para a economia brasileira ainda não foi percebida nos negócios da Chery, onde a demanda permanece inalterada. Segundo ele, mesmo o aumento das exigências de capital para financiamentos automotivos acima de 24 meses, adotada pelo governo em dezembro, já foi “diluída”.
“Crédito ainda tem bastante. Isso já foi diluído”, disse ele em relação ao aumento nas exigências de capital. “Quanto à intensificação da crise que se projeta para o segundo semestre, nós ainda não sentimos isso de maneira mais forte na nossa rede. Tanto que os pedidos continuam os mesmos para a China.”
O Brasil, segundo Curi, é hoje o maior mercado da Chery fora da China. O volume de compras da empresa no País é de cerca de 4.000 veículos por mês, com praticamente nenhum estoque, disse o executivo.
“O que chega já está praticamente vendido”, disse Curi, explicando que há um hiato de cerca de 4 meses entre o pedido e a entrega dos carros nos portos brasileiros.
O crédito total no Brasil cresceu 20 por cento entre os meses de junho de 2010 e deste ano, chegando a R$ 1,83 trilhão no fim do primeiro semestre. Desde o fim de 2010 o governo vem adotando as chamadas medidas macro prudenciais para conter o crédito e, dessa forma, controlar a inflação. No acumulado de 12 meses até julho, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo registrou alta de 6,87 por cento, nível mais alto desde junho de 2005, ignorando os esforços do governo.
Jony Lan
Especialista em estratégia, marketing e novos negócios
jonylan@mktmais.com
Fontes: Bloomberg, exame