Market Share | Abilio Diniz dá sinal verde à fusão com Carrefour, mas Casino contesta e Walmart corre por fora

quarta-feira, maio 25, 2011 Jony Lan 0 Comments

Fechou o tempo? A possível venda de um gigante que inaugurou a era dos hipermercados no Brasil mostra a perda da competitividade em um mercado dinâmico como o varejo. Isso demonstra as lacunas não preenchidas e a não-eficiência que atingem qualquer tipo de empresa, até uma das maiores redes de varejo do mundo.

As conversas para uma fusão das operações do Grupo Pão de Açúcar e do Carrefour teriam começado há cerca de um mês, conforme matéria publicada pelo jornal Valor Econômico, nesta terça-feira, 24/05. A Estáter Gestão e Finanças estaria assessorando o GPA, enquanto o banco de investimentos Lazard representaria o Carrefour na França. Procuradas, as varejistas não comentaram o assunto.

Abilio Diniz, presidente do Conselho de Administração do Grupo Pão de Açúcar, já teria dado sinal verde para a aproximação e, segundo um executivo próximo, "ele gostou da ideia, achou um caminho interessante."

Quem parece não estar muito satisfeita é a rede varejista francesa Casino Guichard Perrachon, que controla o Pão de Açúcar em conjunto com a família Diniz. O jornal francês Le Figaro citou uma carta enviada pelo executivo-chefe da companhia, Jean-Charles Naouri, para o executivo-chefe do Carrefour, Lars Olofsson, na qual menciona que nunca foi informado sobre a existência das conversas.

"Isso não aconteceu, mesmo o acordo que nos liga ao Grupo afirma que ambas as partes devem tomar todas as decisões importantes por acordo mútuo", escreveu Naouri para Olofsson. O Casino possui uma fatia de 34% no Pão de Açúcar e tem a opção de aumentar sua participação para 41% no próximo ano.

Cade pode barrar fusão
Consultores do mercado acreditam que o Walmart seja uma alternativa mais viável para o Carrefour. Segundo o especialista José Lupoli Jr., o motivo é porque o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) barraria a operação com o GPA. “A união das duas empresas geraria uma concentração de mercado muito forte. Por isso, a alternativa mais viável seria uma negociação com o Walmart.”

Entenda o caso
Depois do rombo de 1,2 bilhão de reais nas contas da operação brasileira do Carrefour, descobertos em novembro, a alta nas vendas locais não foram suficientes para sanar os problemas financeiros. Deixar o Brasil - o segundo maior mercado do grupo no mundo - está fora dos planos do Carrefour. A venda à concorrência seria uma medida desesperada para recuperar suas contas. "Foi divulgado um valor do rombo, mas ele pode ter sido minimizado", pondera Lupoli. "Poderia ser uma quantia maior que levasse o grupo a essa decisão extrema de negociar a operação brasileira".

O próprio presidente da rede, o francês Lars Olofsson, reconheceu, na ocasião, que houve problemas. "O que aconteceu foi claramente um mau funcionamento", afirmou ele, em teleconferência com analistas e investidores, segundo a agência Dow Jones.

Não seria a primeira vez que o Carrefour abandonaria um mercado. Para reforçar o caixa, a varejista francesa vendeu as operações tailandesas em novembro para, veja só, o concorrente Casino, por considerar que elas não eram rentáveis. Esse foi o oitavo país do qual o Carrefour saiu nos últimos sete anos.

Para justificar a decisão, a rede afirmou que sua perspectiva de crescimento no país não condizia com a estratégia de focar em países onde poderia ocupar a liderança. O caso brasileiro, no entanto, reforçaria a má gestão da empresa - um ponto criticado por analistas - e poderia colocar ainda mais em risco o futuro do Carrefour.

Hoje, as dez maiores varejistas concentram 39% do mercado. Segundo ele, a união com a filial da rede americana faria o mercado ter em competição dois oligopólios – o Pão de Açúcar e o Carrefour/Walmart. O Pão de Açúcar é a maior rede varejista do País, com faturamento de R$ 36 bilhões em 2010, incluindo resultado das Casas Bahia e Ponto Frio. Na sequência, está o Carrefour, com R$ 29 bilhões. O Walmart ocupa a terceira posição com R$ 22,3 bilhões.

Cenas do próximo capítulo: quem arrisca um palpite?

Abs,

Jony Lan
Especialista em estratégia, marketing e novos negócios
jonylan@mktmais.com

Fontes: Valor Econômico, Portal Exame, SM, DCI

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