Crowdfunding | Doar para causas nobres em troca de "recompensas" e realizações
Quando se faz o bem, não há quem vá contra. Concordam?
São Paulo - O que o show da banda Belle & Sebastian no Rio, o projeto de troca-troca “Livro para Voar” e o site de e-commerce e incentivo ao design Rabiscaria têm em comum? Todos esses projetos levantaram recursos pelo chamado crowdfunding, uma forma de financiamento colaborativo por meio de doações feitas pela internet. Os filantropos - ou “investidores” - são pessoas comuns, que acreditaram na causa por boa vontade, pragmatismo ou em busca de uma recompensa.
Quem quer destinar uma parte do orçamento às boas causas no Brasil não encontra muitos incentivos. Atualmente, só são dedutíveis do Imposto de Renda as doações feitas aos fundos de apoio à criança e ao adolescente (FUNCADs) e a projetos aprovados em leis de incentivo. A maioria dos projetos sociais, culturais, científicos e esportivos, porém, fica de fora dos incentivos tributários e não garantirão retorno financeiro a seus apoiadores.
Os sites de crowdfunding possibilitam aos entusiastas da filantropia a realização de doações aos projetos em que acreditam, ao mesmo tempo em que recebem uma recompensa por isso. Não se trata de retorno ou alívio financeiro. A recompensa é a realização de um projeto de interesse dos doadores ou até alguns presentes dados pelos donos do projeto como forma de agradecimento.
Crença na causa ou na recompensa
Os fãs da banda escocesa Belle & Sebastian, por exemplo, conseguiram se mobilizar para levar os músicos ao Rio de Janeiro, numa ação que, posteriormente, tomou a forma do site Queremos.com.br. Os líderes da ação provaram que, ao contrário do que se pensava, havia sim público na cidade para um show desse tipo. As doações dos fãs bancaram o show e depois foram reembolsadas com a venda de ingressos.
Da mesma forma que a iniciativa se tornou um site de crowdfunding de shows, outras ideias se tornaram pontes para o financiamento de projetos em outras áreas, com recompensas que vão além da realização do projeto em si. Sites como o Catarse.me, o Motiva.me e o Incentivador.com.br apoiam projetos de arte, moda, design, culinária, games e tecnologia que ainda não saíram do papel. Nessas plataformas, cada faixa de doação dá direito a uma espécie de prêmio para o doador.
O Rabiscaria foi um dos projetos hospedados no Catarse que alcançou a quantia pleiteada, devendo ser lançado em breve. Fruto da ideia do desenvolvedor e designer Carlos Filho, o Rabiscaria viabilizará a produção em escala de produtos de moda, decoração e design adornados com desenhos de ilustradores que ainda não tenham atingido notoriedade. Por meio de parcerias com fornecedores e distribuidores, a empresa vai produzir e vender coleções exclusivas pela web, em eventos e em lojas físicas parceiras, pagando os direitos autorais aos artistas.
Em 45 dias, 139 pessoas que apoiam a divulgação do trabalho de ilustradores contribuíram com 23.035 reais, ultrapassando o mínimo desejado de 22.500 reais para dar início ao projeto. Cada faixa de contribuição deu direito a um tipo de recompensa. A menor, de 10 reais, concedia ao doador um adesivo da Rabiscaria e a menção do nome na lista de colaboradores do site. Uma contribuição mediana, de 60 reais, recompensava com a menção do nome, dois adesivos e um par de copos de vodka decorados com a obra de um artista convidado pelo site.
A faixa de doação mais alta, de 4.000 reais, garantia, entre outras recompensas, a visita do artista plástico Mateus Dutra à casa do doador para a pintura de um painel exclusivo. Ou então, o doador poderia também optar por receber um painel de mais de um metro quadrado assinado por Moacir, artista plástico naïf da Chapada dos Veadeiros.
Segundo Carlos Filho, ele e seus parceiros no projeto fizeram intensa campanha junto a conhecidos e nas redes sociais. Dos três doadores que contribuíram na faixa dos 4.000 reais - todos pessoas físicas - nenhum era amigo ou parente dos donos do projeto. Agora, as recompensas já estão em fase de confecção. O lançamento do site e da primeira coleção, feita por artistas convidados, deve ser em meados de abril.
Os projetos sociais também não ficaram de fora no universo do crowdfunding brasileiro. O Senso Incomum nasceu com a intenção de ajudar projetos sociais já em andamento. A diferença é que os recursos levantados são usados para comprar aquilo de que o projeto necessita, em vez de serem repassados diretamente. Ou seja, o projeto social já recebe do site aquilo que foi pedido. Outra diferença é que não existem recompensas materiais para os doadores.
O primeiro projeto a atingir a meta de donativos no Senso Incomum foi o de uma apoiadora do “Livro para voar”, que incentiva a troca e doação de livros, passados adiante sempre que alguém termina a leitura. Ela pedia um display para os livros disponíveis para doação, comprado com 276 reais doados por onze pessoas.
Funcionamento do crowdfunding
Os sites de crowdfunding utilizam o sistema “ou tudo ou nada”, em que o projeto só recebe o dinheiro doado caso atinja a meta de financiamento num prazo de até 90 dias. Quem pretende inscrever seu projeto num site desse tipo vai calcular essa meta somando o valor que deve destinar ao projeto ao imposto, à taxa pelo pagamento eletrônico e a um percentual pelo serviço que não chega a 10% do total doado.
Abs,
Jony Lan Especialista em estratégia, marketing e novos negócios
jonylan@mktmais.com
Fonte: Exame