Risco Estratégico | Deloitte maquiou rombo no banco de Silvio Santos
A Deloitte mandou para o banco PanAmericano e para o Banco Central o balanço do terceiro semestre da instituição financeira de Silvio Santos como se ela não tivesse um rombo de R$ 2,5 bilhões --R$ 2,1 bilhões são do banco e R$ 400 milhões da área de cartão de crédito--, informa Mario Cesar Carvalho.
A Folha apurou que o buraco seria tratado numa nota técnica da demonstração financeira, recurso usado normalmente para explicar metodologia ou eventos menores no período analisado pelo balanço --de junho a agosto deste ano.
Executivos que integram a nova diretoria e o novo conselho de administração do PanAmericano se recusaram a assinar o balanço porque seria o endosso da fraude, na interpretação deles.
O buraco foi descoberto pela fiscalização do Banco Central em agosto, mas a Deloitte só ficou sabendo do problema no mesmo dia em que o PanAmericano fez um comunicado ao mercado -no último dia 07/11.
A Deloitte é a maior empresa de auditoria do mundo e não apontou os problemas que o PanAmericano tinha ao auditar o balanço de 2009.
Silvio Santos já anunciou que vai processar a Deloitte por conta da aparente omissão na análise do balanço.
OUTRO LADO
A Deloitte diz que não tem procedência a apuração da Folha de que a empresa enviou uma demonstração financeira na qual o buraco de R$ 2,5 bilhões aparece apenas numa nota técnica.
A reportagem pediu à empresa que fornecesse uma prova de que a informação era improcedente e obteve a seguinte resposta: não foi a Deloitte que finalizou a auditoria do terceiro trimestre.
Sobre a checagem da venda de crédito com coobrigação, a Deloitte diz que não pode informar o que fez durante a checagem do balanço porque há uma cláusula de confidencialidade que veta esse tipo de informação.
ENTENDA O CASO
O Grupo Silvio Santos, o acionista principal do PanAmericano, anunciou que colocará R$ 2,5 bilhões no banco para cobrir um prejuízo causado por uma fraude contábil. Em seu comunicado oficial, a diretoria do banco menciona "inconsistências contábeis". O dinheiro virá de empréstimo do FGC (Fundo Garantidor de Créditos).
O BC descobriu que o PanAmericano vendeu carteiras de crédito para outras instituições financeiras, mas continuou contabilizando esses recursos como parte do seu patrimônio. O problema foi detectado há poucos meses e houve uma negociação para evitar a quebra da instituição, já que o rombo era bilionário.
A quebra só foi evitada após o Grupo Silvio Santos assumir integralmente a responsabilidade pelo problema e oferecer os seus bens para conseguir um empréstimo nesse valor junto ao FGC. Como o fundo é uma entidade privada, não houve utilização de recursos públicos. Além disso, a Caixa Econômica Federal, que também faz parte do bloco de controle, não terá de arcar com a perda.
A Polícia Federal informou que instaurou, nesta sexta-feira, inquérito policial para apurar a eventual prática de crimes contra o Sistema Financeiro Nacional. O Ministério Público Federal informou que também vai investigar as transações do banco.
No final das contas todos procuram um culpado e ninguém procura pensar em "checar" o que já é checado. A Deloitte pode ser grande, uma das famosas "Big Four" do mercado de auditorias, mas independente da marca e da globalização de sua atuação é que quem sempre está lá checando,é uma pessoa e pode ser alguém sem a devida experiência à altura. E por fim, de quem é a culpa? Da Deloitte ou de quem estava envolvido no trabalho, os famosos "pica-paus"? Nessas horas, que sai ganhando são as pequenas consultorias, que sabem que podem mais. Numa dessas, a Arthur Andersen desapareceu.
Abs,
Jony Lan
Especialista em estratégia, marketing e novos negócios
jonylan@mktmais.com
Fonte: Folha de São Paulo