Reserva de mercado: Multa da cadeirinha começa Hoje e 1/3 da frota pode ficar de fora
Começa hoje a fiscalização das novas regras para transporte de crianças em automóveis. Mas o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) já está aconselhando que órgãos de fiscalização deixem de multar 1/3 dos veículos que circulam pelas ruas do País, mesmo que não transportem crianças de 4 a 7 anos e meio no booster (assento elevatório), como manda a nova resolução. São os carros fabricados antes de 1998 que ainda têm cinto de segurança subabdominal.
"As crianças com idades entre 4 e 7 anos e meio deverão ser transportadas apenas com o cinto de dois pontos, sem o assento de elevação", informou o Denatran. O problema do booster no cinto de dois pontos é que o tronco da criança fica solto, podendo ser projetado para a frente em caso de acidentes.
Trata-se da primeira exceção à Resolução 277 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). A nova regra determina que todas as crianças devem ser transportadas com um dispositivo específico de proteção, que varia de acordo com a idade: até 1 ano, o bebê conforto; de 1 a 4 anos, a cadeirinha; até 7 anos e meio, o booster; a partir dessa idade, com cinto de segurança, sempre no banco de trás.
Outros dispositivos também já enfrentam problemas. Segundo o gerente de avaliação do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), Gustavo Kuster, não há hoje no mercado mundial cadeirinha adaptada para cinto de duas pontas que tenha sido certificada após passar por testes de segurança. "Proibimos toda e qualquer cadeirinha que não passe nos ensaios. Se algum fabricante desenvolver um modelo para cinto de duas pontas e esse modelo passar nos ensaios, excelente, mas não vamos criar uma meia segurança."
Fiscalização
O primeiro órgão a ser notificado sobre o caso dos boosters em veículos antigos foi a Polícia Rodoviária Federal, que prometeu seguir orientação do Denatran e não multar. Em São Paulo, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) informou que seus agentes multarão a partir hoje todos que descumprirem a regra, sem exceção. Mas, se for notificada pelo Denatran, poderá mudar de procedimento em relação aos carros mais antigos. Já a Polícia Militar da capital e outros órgãos de trânsito municipais do País, como os do Rio e de Santos, optaram por apenas fazer ações educativas hoje.
Quadrigêmeos. Apesar dos problemas, alguns pais já se tornaram bons exemplos de adaptação à nova regra. É o caso da técnica em alimentos Kátia Cristina Ramos, de 33 anos, que começou a comprar os equipamentos de proteção poucos meses depois de seu parto - não de filho único, mas de quatro bebês. "Quando descobri que eram quadrigêmeos, chorei por três dias seguidos. Hoje estou muito feliz, mas preciso fazer ginástica."
O primeiro passo foi vender o carro e comprar outro maior. Em seguida, gastou cerca de R$ 3 mil apenas para comprar duas cadeirinhas e dois bebês conforto para os filhos, hoje com 1 ano e 2 meses - dois eram menores, porque nasceram prematuros.
Kátia procura marcar consulta médica e outros eventos para os quatro filhos juntos. Nessas ocasiões, precisa de pelo menos 50 minutos para ajeitar todos eles nos equipamentos. "Eu tenho outros dois filhos e às vezes eles precisam ir de metrô."
Análise
Considerando a frota brasileira de carros e a quantidade de crianças no Brasil, quem vende cadeirinhas está sorrindo e aproveitando a "onda". A regra vai firmar esse mercado e vai garantir que empresas brasileiras possam se desenvolver, já que a maioria, senão a totalidade das cadeirinhas é importada. Em breve veremos as próprias montadoras colocando as cadeirinhas como um acessório em sua linha de montagem e já pode ser usado como mote para suas campanhas de marketing. Agora é aguardar para ver qual montadora irá colocar isso como diferencial, afinal, quem chega primeiro, vai ganhar alguma vantagem. First mover.
Jony Lan
Especialista e Consultor em estratégia, marketing e novos negócios
jonylan@mktmais.com
Fonte: O Estado de S.Paulo