Perfil: Mulheres já são 53% do total de empreendedores

segunda-feira, agosto 30, 2010 Jony Lan 2 Comments

Elas não querem mais apenas ter o mesmo salário dos homens, nem as mesmas chances de emprego. As mulheres, no Brasil, querem mesmo é ser donas dos próprios negócios. É o que diz a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), feita em parceria com o Sebrae. Em 2009, de cada cem empreendimentos em estágio inicial, 53 eram liderados por mulheres e 47 por homens. Esta é a primeira vez que a proporção de mulheres empreendendo superou a de homens. Dois anos antes, elas estavam à frente de 40% dos novos negócios.

Ainda segundo a pesquisa GEM, apenas dois países no mundo estão à frente do Brasil em empreendedorismo feminino: Tongo, com 61%, e Guatemala, com 54%. E as brasileiras estão investindo em negócios cada vez mais planejados e consistentes. O diagnóstico é baseado no percentual de empreendedores por oportunidade, que no ano passado foi de 53,4% para mulheres.


Juliana Trivellato, 24, foi uma que aproveitou o bom momento para inovar. Aos 22 anos, ela resolveu trancar a faculdade de direito para abrir uma franquia de uma agência de viagens no bairro Floresta, região Leste da capital. "As lojas desta rede eram só em shoppings ou em áreas nobres da capital. E eu conheço a região da Floresta, sei que tem uma classe média que já conquistou a casa própria e, agora, tem dinheiro sobrando para investir em lazer", conta. E foi um tiro certeiro. A dona da primeira loja de rua da rede conta que, em pouco mais de um ano, conseguiu recuperar os R$ 150 mil investidos no negócio e já está pensando em abrir mais uma franquia na região. "No início, foi difícil, pois tive que me impor diante de funcionários com muita experiência de mercado. Todo mundo me olhava com aquela cara: o que você entende de turismo? Quero ver esta advogada se virar. E eu me virei", conta, orgulhosa.

Segundo Mara Veit, gerente de atendimento ao empreendedor do Sebrae, a nova mulher está partindo para negócios diferenciados, que oferecem um algo a mais para o cliente. No ramo de negócios, os empreendimentos estão mais voltados para serviços nas áreas de saúde, bem-estar e qualidade de vida. "São spas, salões de beleza, clínicas de estética, mas todos com um olhar diferenciado, oferecendo atendimento personalizado e investindo na personalidade do negócio", explica.

Feira do Empreendedor
O Sebrae realiza a Feira do Empreendedor, que inclui programação específica para o público feminino, como seminários de moda, comércio e tecnologia.
Público | A expectativa é reunir 100 mil pessoas, 40 mil a mais que em 2009.
Quando | Entre os dias 31 de agosto e 5 de setembro, no Expominas (avenida Amazonas, 6.030). A entrada é gratuita.

Elas querem se formalizar
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem cerca de 10 milhões de trabalhadores informais no Brasil. Uma das alternativas para atrair essas pessoas para a formalidade é o EI, ou Empreendedor Individual. Criado em julho de 2009, o EI é voltado para trabalhadores autônomos (costureiras, pintores, encanadores, etc.) que não recolhem tributos e não possuem cobertura previdenciária.

Minas Gerais já possui mais de 46 mil empresários formalizados como EI, e o Sebrae espera, até o fim de 2010, formalizar mais 102 mil. De acordo com a gerente de atendimento ao empreendedor do Sebrae, Mara Veit, não existe uma pesquisa discriminando o perfil desses empresários, mas ela garante que as mulheres são a maioria. “Elas já tinham uma característica de desenvolver atividades caseiras para complementar a renda. Agora, estão formalizando os negócios”.

Foi exatamente o que aconteceu com Kelly Netzker, 36. Em junho de 2009, ela deu uma entrevista para O TEMPO sobre as caixas de presente personalizadas que fazia para o Dia dos Namorados. “O que começou como um hobby, de repente, virou uma empresa e eu tive muitos pedidos”, lembra. O sucesso foi tanto que Kelly comprou máquinas, aumentou o mix de produtos e contratou um funcionário. Resultado: tornou-se uma empreendedora individual. Podendo emitir notas fiscais, conseguiu clientes importantes como grandes empresas. “Gosto de correr riscos, e não perigo. Fiz tudo com cautela e agora tenho o meu negócio”, conclui. (AL)

Minientrevista
“A mulher é um misto de agressivo e cauteloso”
Kleber Câmara Professor e diretor do IBs/FGV

Qual a diferença da mulher de hoje para a de dez anos atrás? A diferença já deu pra ser sentida nos últimos cinco anos. No IBS/FGV, que é voltado para a área de negócios, nós não conseguimos identificar um curso que seja mais feminino ou mais masculino. O de engenharia de produção, que, antes, tinha muito mais homens, agora está completamente equilibrado. Já no curso de administração de empresas, quase 60% dos alunos são mulheres.

Qual a característica dessas mulheres? As alunas já chegam aqui com um perfil mais empreendedor, de gestão mesmo. A mulher tem uma característica mista, que envolve agressividade e cautela. Elas têm muita iniciativa, a gente vê o perfil de gestora aflorando cedo. Algumas mulheres se sentem mais à vontade para trabalhar com o público, mas isso não chega a ser um perfil. Hoje, muitas empreendedoras estão em várias áreas.

Por que elas estão se destacando como empreendedoras? Esse destaque é uma combinação de fatores econômicos e sociais. O avanço da industrialização alterou a estrutura produtiva e as mulheres estão com nível maior de escolaridade em relação aos homens. Elas entram na faculdade com a cultura de “somos iguais e estamos tomando conta do mercado” e levam os estudos mais a sério.

Como legalizar
Regras. Podem aderir ao EI trabalhadores com faturamento anual de até R$ 36 mil e que não sejam sócios de nenhuma empresa. O EI pode ter um funcionário e participar de concorrência pública.

As mulheres estão empreendedoras e as oportunidades são imensas. Juntá-las em um único lugar para discutir sobre negócios é um prato cheio para boas idéias.

Abs,

Jony Lan 
Consultor em estratégia, marketing e novos negócios
jonylan@mktmais.com

Fonte: O Tempo

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