Tendência: Varejo vai se preparando para as ondas de fusões

quarta-feira, abril 07, 2010 Jony Lan 0 Comments

No mundo dos negócios, a tendência de um setor é como um vaso cheio de pedras, a cada pedra movida, um novo movimento se consolida até que as pedras se assentem até o próximo movimento. Foi assim quando as grandes redes supermercadistas resolveram compras as atacadistas disponíveis e agregaram o "Atacarejo" em seus canais de vendas.

Com a compra do Ponto Frio pelo Grupo Pão de Açúcar que nunca conseguiu emplacar sua loja de eletros (Jumbo Eletro e depois o Extra Eletro) e pela última cartada com as Casas Bahia, era de se esperar um movimento no setor.

A rede Magazine Luiza deve reagir às últimas fusões ocorridas no seu segmento: segundo fontes de mercado, procura um parceiro, como, por exemplo, a centenária Pernambucanas, ou até mesmo a Lojas Colombo. As empresas negam, mas tudo indica que a disputa no varejo de eletroeletrônicos será ainda mais acirrada com a nova onda de fusões que se desenha no mercado.

Enquanto a rede da empresária Luiza Trajano estaria à procura de viabilizar o negócio, o concorrente Ricardo Eletro deu a cartada mais rápida e fechou parceria com a baiana Insinuante. A fusão criou a Máquina de Vendas, rede que nasce com 528 lojas e faturamento estimado em R$ 5 bilhões este ano. Na dança das cadeiras, a rede fica com o segundo lugar entre as líderes do segmento, pois passou, ao menos temporariamente, o Magazine Luiza, com 456 unidades e faturamento de cerca de R$ 3,8 bilhões.

De acordo com o presidente da Ricardo Eletro, Ricardo Nunes, um dos focos da nova empresa é chegar ao mercado paulista, sem descartar nova associação, até mesmo com a rede de Luiza Trajano. "Queremos entrar em São Paulo no próximo ano, e para isso teremos algumas estratégias", afirmou o empresário. "Temos planos de crescer seja com quem for, seja com o Magazine ou outra empresa que queira juntar-se a nós", reforçou ele.

Deixado para trás pela segunda vez, o Magazine precisará ser ágil para não perder mercado, uma vez que viu, pela terceira vez, a concorrência tomar-lhe a frente; por duas vezes o Grupo Pão de Açúcar (Companhia Brasileira de Distribuição -CBD) se antecipou: ao comprar o Ponto Frio, em junho passado, e ao associar-se à Casas Bahia, em dezembro.

Para o professor, Nuno Fouto, do Programa de Administração do Varejo (Provar), o mercado se torna cada vez mais concentrado em grandes players, e ele acredita que a possibilidade de união do Magazine Luiza com a Pernambucanas é uma boa alternativa para dar novo fôlego à rede, na disputa pelo consumidor final. "Buscar a Pernambucanas é viável e interessante porque daria mais capilaridade à rede", explica.

Fouto acredita que outra alternativa para Luiza Trajano é associar-se ao novo grupo e fornecer a estrutura de que eles precisam para entrar no mercado paulista. "Para o projeto deles de entrar em São Paulo, é preciso se associar ou comprar alguém. Então é interessante uma união com o Magazine Luiza também", afirma o professor, que completa: "Uma coisa é certa: agora o Magazine Luiza precisa se movimentar".

Outro que vê o momento como fundamental para uma movimentação da rede paulista é o consultor Lucas Copelli, sócio diretor da Vallua Consultoria e Gestão. "Eles precisam se unir com a Pernambucanas ou com a Lojas Colombo; mas acho que é interessante também associar-se com esse novo player da Ricardo com a Insinuante", diz.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Pernambucanas afirma que não há possibilidade de fusão com a rede de Luiza Trajano; já o Magazine Luiza não descarta parcerias, e disse, por meio de nota enviada ao DCI, que "uniões e fusões no segmento de eletro são esperadas" e que "continua com seu plano de expansão e também encontra-se aberto para analisar propostas de aquisição de redes, mas não existe nenhuma negociação".

Opções
Para o Professor Ricardo Pastore, coordenador do Núcleo de Varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o Magazine Luiza é mesmo a rede que está em uma posição mais "incômoda" e precisa buscar uma alternativa mais rápida e inteligente: "Tanto o Magazine quanto Insinuante, Ricardo Eletro e Casas Bahia usam a mesma estratégia de comunicação, o mesmo apelo de preço e tem o mesmo público-alvo; o varejo brasileiro precisa investir mais em conhecimento, e, quem sabe, buscar um novo modelo de negócio", diz.

Além de buscar modelos, uma opção seria mesmo buscar parcerias com outras empresas ou diversificar, com vistas a atingir um público diferente, como fez, por exemplo, a gaúcha Lojas Colombo, considerada a quarta maior, para entrar na capital paulista, onde abre apenas lojas premium para o público das classes A e B.

Marcelo Cherto, presidente da consultoria GrowBiz, afirma que as classes que mais crescem são mesmo a C e a D, e que as redes devem continuar a apostar neste público. Para ele, ainda há redes locais -como Lojas Colombo e Salfer, que atuam principalmente no sul do País, e Lojas Maia e Yamada, no norte e nordeste- que poderiam ser compradas, assim como a própria Pernambucanas. Uma terceira opção, enquanto isso, é uma parceria com um investidor estrangeiro. "Há gente de fora olhando as redes brasileiras. As vendas do varejo dos Estados Unidos caíram 6,6%, queda brutal, enquanto no Brasil cresceram 5,9% -só em São Paulo, 7%, por exemplo", destaca. Para ambos, a fusão foi uma forma de Ricardo Eletro e Insinuante defenderem as regiões em que operam e que começavam a ser mais invadidas pelos concorrentes.

Capilaridade
Na minha análise, Jony Lan, o que mais acontece com as fusões é um "inchaço" operacional, seguido de uma integração sistêmica e posteriormente a famosa passada da "régua" ou cortes. Muitas lojas serão concorentes delas mesmas, ou seja, não há necessidade de duas lojas, uma do lado da outra, pois agora "não são mais concorrentes". As fusões trazem isso, um canibalismo saudável.

Para a indústria, isso não faz muita diferença. O varejo já trabalha com margens "protegidas", é como uma bola de neve, quanto maior a empresa, maior a quantidade do lucro, não a margem. Essa é a equação. O caminho das fusões revela que a fonte de lucro é única, sendo que a população brasileira, apesar da maioria ser da classe C e D, ela é estratificada, ou seja, há nichos como as classes A e B que a FastShop, por exemplo, nada de braçada. A tendência pós-fusões laterais será a diversificação por estratificação social, ou se criam novas bandeiras para atuar em outros nichos, ou vamos ver nos próximos anos um aumento no fechamento de lojas de varejo, fruto das fusões.

Abs,

Jony Lan
Especialista em estratégia, marketing e novos negócios
jonylan@mktmais.com

Fonte: DCI

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