Análise: Lula e os "Laptops" de 100 dólares x Indústria Nacional de Informática

sábado, agosto 01, 2009 Jony Lan 0 Comments

Antes de falar sobre esse artigo, vamos falar do título. "Laptop" é um termo um tanto ultrapassado em 2009. Primeiro que Laptop era um pré-Notebook, ou seja, era um trambolhão, mais pesado e com a tecnologia antiga. Notebook seria o termo correto, mas existe um detalhe que pouca gente que conhece a indústria e acompanha a área de informática conhece.

O projeto original
O termo "Laptop" nesse contexto é pertinente em função do projeto de Nicholas Negroponte que em 2005, apresentou o protótipo de um "laptop" que custaria a bagatela de 100 dólares. Negroponte fundou uma organização sem fins lucrativos, One Laptop Per Child (OLPC). O objetivo do projeto e que o "laptop" baratíssimo seria distribuído em larga escala para estudantes em regiões pobres do planeta. Assim, o acesso de milhões de jovens ao mundo digital estaria garantido.

Os títulos das matérias
Encontrei centenas de matérias falando dos pronunciamentos do Lula sobre importar o Notebook. Vejam:
G1 - "Lula ameaça importar laptops se indústria nacional não baixar preços"
O Globo - "Lula ameaça importar PCs se indústria não baixar preços"
Agência Brasil - "Governo pode importar notebooks para atender escolas da rede"

Para quem lê, parece que o Lula quer importar qualquer computador, desde que custe 100 dólares. Muita atenção nesse momento, nem toda matéria é perfeita e muitas vezes esconde dados que são importantíssimos para uma real oportunidade. À primeira vista, alguns empreendedores pensariam que é uma oportunidade e tanto. Mas vale uma informação, em 2007 o Governo Federal (MEC) resolveu fazer uma licitação e só agora os "laptops" foram entregues, com caras de notebooks, claro. Assim, tenham em mente que o projeto é para equipamentos portáteis.

Indústria de 2007 para 2009
Trabalhei nesse mercado, na indústria e nas articulações dos maiores players. Se Laptops eram antigos, os Notebooks se desdobram e nesse meio tempo os "Netbooks" se popularizaram. No exterior o Netbook é muito mais barato que um Notebook, inclusive no Brasil. A questão é que toda a indústria brasileira não é uma indústria de computadores de fato, ou seja, ela não produz tecnologia, e sim é uma indústria de montadores de computadores, isso inclui notebooks, netbooks, etc. Significa que todas as peças com maiores tecnologias são importadas, somadas às cargas tributárias e custos de produção, o "laptop" da Positivo, que venceu a primeira licitação do MEC, somou as exigências de assistência técnica, suporte, etc e chegou ao preço de USD 350.

Desafios
A indústria nacional não tem como baixar os custos e mesmo que a carga tributária seja isentada, afinal é para a educação, não há como chegar a um "laptop" de 100 dólares.
Primeiro que esse preço não existe no exterior, nem na China, nem na indústria chinesa.
Segundo que dar esses aparelhos para as crianças, sem aumentar salários de professores, sem dar estrutura para salas de aulas, sem ter conteúdo direcionado com a utilização desses computadores portáteis e sabendo que a maioria dos alunos são pobres e que os pais nem sempre possuem a instrução para educar os filhos adequadamente, o que esperar desses "Laptops"?
Terceiro, se o governo vai importar, o governo vai ter que contratar alguém para procurar esse equipamento, vai ter que custear toda a logística, vai ter que contratar uma empresa para fazer toda a manutenção, tropicalização, instalação e entrega no Brasil. No mínimo vai ter que contratar uma empresa de importação e outra da indústria de informática. significa que se achar um "laptop" de 100 dólares no exterior, vai sair bem mais caro e pode até se surpreender com o preço final.

Na minha opinião, a primeira medida que o governo deveria fazer é isentar totalmente qualquer material ou equipamento que seja destinado à educação dos tributos federais, estaduais e municipais. Isso já é feito com qualquer produto que seja utilizado para fins religiosos e no final, temos no Brasil um dos maiores países cristãos do mundo, avançadíssimo, basta ver a as dimensões que essas instituições e organizações possuem. Com o apoio do Lula nessa questão, se isso ocorrer, aí sim, a estrutura para as oportunidades estarão abertas. Sem isso, o projeto do OLPC brasileiro está nas mãos do governo.

Abs,

Jony Lan
http://mktmais.com
Fontes: Abril, G1, O Globo, O Dia

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